Josemir Almeida Barros
Maria Esperança de Paula
Propomos aqui uma reflexão sobre imagem, na forma de desenhos, isto é, sobre os aspectos ligados à utilização dos desenhos como possível forma de problematizar parte dos aspectos culturais e ideológicos de crianças de 5 e 6 anos, suas falas representadas como imagens vinculadas à mídia televisiva. Uma das indagações fundantes torna-se necessária: que lugar a televisão ocupa na vida das crianças? Essa questão, central para nosso grupo de pesquisa, é trazida para este texto a partir de um diálogo construído com crianças da educação infantil da Colégio Padre Eustáquio, localizada em Belo Horizonte.
Qual a parte da sua casa de que mais gostam? Essa pergunta, motivadora do desenho, foi feita com dois objetivos: conhecer o contexto extra-escolar da vida das crianças e observar a possível presença da televisão nesse contexto. Percebemos uma relação muito grande entre a linguagem imagética dos desenhos e a fala que as crianças construíam em seu entorno, antes ou depois do desenho feito. Percebemos também que as crianças dificilmente resistem a desenhar quando instigadas diante de um pedaço de papel. Utilizar os desenhos como instrumento de pesquisa com crianças da educação infantil, torna-se uma rica possibilidade de compreender a relação entre imagem e oralidade, sendo estas formas privilegiadas de expressões e sentimentos infantis.
Segundo GOBBI (2002) os desenhos infantis podem ser considerados como documentos caracterizados como objetos interlocutores que vão permitir uma construção de diálogos com as crianças, contribuindo como fontes de informações a serem investigadas, interpretadas, analisadas e comparadas. As crianças ao registrarem os desenhos no papel, tendem a contar as visões do seu mundo. Portanto, tais documentos são entendidos como obras humanas que registram, ainda que de modo fragmentado, pequenas parcelas das complexas relações tanto individuais quanto coletivas das crianças.
Os desenhos podem ser entendidos como uma grafia que conservou o pensamento e a fala de forma a permitir sua representação e consequentemente sua leitura. Nestes desenhos, encontramos expressões e experiências das crianças com a TV, seus desejos, sonhos e compreensões sobre a vida cotidiana, sobre a vida escolar, suas inter-relações com os amigos, com os familiares e parte do que acreditam. Para essas crianças as imagens midiáticas parecem onipresentes em um mundo tomado por telas de toda ordem, desde os outdoors aos microcomputadores e da televisão aos vídeo-games e pocket-games.
Tão presentes na vida das crianças, as imagens precisam se tornar presentes em nossos estudos e pesquisas.
REFERÊNCIAS
– GOBBI, Márcia. "Desenho infantil e oralidade: instrumentos para pesquisa com crianças pequenas." In. GOULAR, Ana Lúcia de Faria e et all. (Orgs.). Por uma cultura da infância. Campinas: Autores Associados, 2002.
Josemir Almeida Barros
Licenciado em História pela PUC-MG e Mestrando em Educação pela UERJ. Prof. da FAE/UEMG.
Maria Esperança de Paula
Licenciada em Pedagogia pela FAE/UEMG e Mestranda em Educação pela UERJ. Profa. da FAE/UEMG.